1.14.2010

respostas a perguntas inexistentes (68)

Que está de chuva, diz ela estéril de assuntos para conversar. E eu dou mais um gole na cerveja para ganhar tempo. Também não tenho nada para dizer. Acho que o estado do tempo nos salva muitas vezes das conversas vazias. Ou está chuva ou está Sol, ou está frio ou está calor. E vamos dizendo o que já se sabe.
Afinal dei três goles na cerveja. Pouso a garrafa e sorrio. Ela olha para mim esperando uma resposta à 'não pergunta' que fez. Os olhos dela parecem os de um lobo à espera que o coelho saia da toca: bonitos e delicadamente ameaçadores. E eu saio mesmo da toca.
Porque é que as pessoas falam tanto do estado do tempo? Pergunto. Agora é ela que dá uns goles no chá preto que ainda fumega e claro que eu já sei que o faz só para ganhar tempo. Para estarmos mais perto, diz ela. Estarmos mais perto? Pergunto sem dar nenhum gole. Sim, se estivermos frente a frente sem dizer nada um ao outro é como se estivéssemos distantes. Apanhou-me.
O silêncio entre um homem e uma mulher é o silêncio do amor e não pode ser banalizado. Podemos estar em silêncio quando contamos estrelas, quando nos cansámos duma suada noite de sexo, quando nos zangamos ou até quando damos as mãos à saída do cinema. Não podemos quando estamos a acabar de almoçar num self-service movimentado no centro da cidade. É esse o perigo do silêncio.

18 comentários:

susana disse...

E com esta me remeto ao silêncio... disseste tudo! Adorei! :)

Ivar C disse...

susana, :)

Brandie disse...

É curioso este tema. É só repararmos num restaurante a quantidade de casais que se sentam um em frente ao outro a olhar para tudo mas sem dizer uma palavra.
Acho que é um silêncio com muito conteúdo, sobretudo sobre o estado da relação.

Tricana disse...

Gostei!!!! :))

Olga disse...

Ouvi alguém dizer um dia que a distância se mede em palavras.

Anónimo disse...

Não vejo o porquê do perigo deste silêncio...

"Pensamentos catatônicos". Uma ótima ideia para se direcionarem os pensamentos. Ao menos para mim, que tenho mania de pensar muita besteira durante o dia, principalmente quando tenho nada a fazer. Vou começar a criar crônicas ao invés de pensar bobagem, LOL

Anónimo disse...

Embora aí seja "respostas a perguntas inexistentes", né (cabeção). Mas tudo bem, dá na mesma! LOL. São lindíssimas de qualquer jeito :-)

RPM disse...

Dás uma no cravo e outra na ferradura.

RPM disse...

ah! Esqueci-me: lindo, o texto. Muito lindo.

Bichana disse...

Chiu!(está fantástico este post! - dito em voz baixa):)

Malena disse...

Pois...já disse aqui uma vez que gosto dos silêncios a dois. No entanto, só é bom se continuarmos a "falar" com os gestos e/ou o olhar! Se temos que preenchê-lo com banalidades mais vale estarmos calados.:-)

Ivar C disse...

brandie, pode ser, sim. :)

tricana, :)

olga, porque às vezes é verdade. :)

gigi, lol... independentemente do nome acho que deves escrever, sim. :)

rpm, :)

bichana, obrigado. :)

Anónimo disse...

Concordo! :)

Ivar C disse...

malena, sim... os gestos podem ser até expressões faciais, às vezes... :)

joana, :)

Anónimo disse...

já puseste a hipótese de os olhos dela serem bonitos e delicamente ameaçadores, porque o calor do chá q ainda fumegava, os podem ter tornado mais brilhantes, ou poderia ela estar radiante?
e tens q entender q tb o chá preto,dizem q tem tanta cafeína quanto um descafeínado...mesmo que pingado pela chuva...



anónima 3

Ivar C disse...

anónima, os olhos dela são mesmo bonitos. :)

nada desta vida disse...

sacana.
tens a capacidade de me emocionar.

Ivar C disse...

subtilezas, lá está... és de Viana. lol. :)