7.05.2007

restos

Aqueceu no micro-ondas restos do dia anterior, durante um minuto, e agora está sentado à mesa sem ter ainda tocado na comida. A mesa, apesar de ter apenas seis lugares, parece-lhe demasiado grande, ou talvez até seja ele que se tenha tornado demasiado pequeno. Demasiado pequeno para o silêncio que se sentou nas outras cinco cadeiras e não se quer levantar, demasiado pequeno para um minuto que demorou a aquecer a refeição, demasiado pequeno para a noite que se vai agigantando.
Aqueceu no micro-ondas restos do dia anterior, durante um minuto, e agora pensa na palavra restos. Porque é que que chama restos a tortellini de espinafres feitos no dia anterior? Todo ele é um resto também. Um resto duma vida sinuosa, um resto dum dia de trabalho, um resto dum regresso a casa entre anónimos peões e alguns semáforos vermelhos. Talvez até seja já um resto da noite que se vai agigantando.

13 comentários:

Elora disse...

Como é que consegues traduzir almas?

Ivar C disse...

elorinha, vou tentando... às vezes. :)

Fatyly disse...

Como não quero que vejas as lágrimas...digo apenas... apre que essa foi no alvo! Chiça!

Ivar C disse...

fatyly, foi sem querer... eu nunca acerto em nada... ;)

Tangerina disse...

Bonito.

olhos de ver disse...

Gostei muito.

Também, por vezes, a noite agiganta-se para mim.


Um conselho: mostra-lhe a língua.:)

Anónimo disse...

Gostei muito.

Também, por vezes, a noite agiganta-se para mim.

Quando o silencio dos outros bancos for ensurdecedor, quando a noite se agigantar, quando os restos parecerem pedaços de algo que estava completo, faz o que te digo. Mostra-lhes a língua. :)


pachita

(leio-te há algum tempo, mas não sou muito de comentar.)

Ana A. disse...

Fabuloso...
Todos nos sentimos restos de alguam coisa, algumas vezes...

Ivar C disse...

tang, um cadito... ;)

olhos de ver/pachita, vou seguir o teu conselho. ;)

100 sentidos, yep... é verdade. ;)

Anónimo disse...

Foi o primeiro comento aqui e veio logo em duplicado e com outro nome de utilizador. Bem que pareceu-me que o primeiro comento não saiu bem e, por isso, corrigi-o.

Os olhos de ver não sou eu.

O meu nick é o pachita.

Bjinhos e bom fds

Anónimo disse...

Fora aquele post que a Fatyly fez com a crónica do António Lobo Antunes, há muito tempo que um texto não me punha com lágrimas nos olhos.
Meu querido, já tantos passámos por isso, e dificilmente alguém o descreveria melhor.

Vai juntando-os, vais ter de editar.

Obrigado

Anónimo disse...

Esquecia-me de dizer: tenho vindo cá pouco, tenho tido imenso trabalho e ando realmente cansada, mas

HOJE, AQUI, GANHEI O DIA

Ivar C disse...

martinha, beijos para ti. A sério... ;)