3.28.2007

crónicas da cidade que sopra | A quietude é um gesto consciente

Sexta-feira, no Diário de Aveiro, mais uma crónica da cidade que sopra.

A quietude da manhã é um gesto consciente. Helena tem vinte minutos para se vestir, tomar o pequeno almoço e apanhar um autocarro para o emprego. Repara que o vento terá adoecido, deitando-se fraco num escaninho da ruela onde vive, ali junto às folhas amontoadas por uma vassoura já ausente, e que agora se vão apartando com latente dificuldade. Aos edifícios decrépitos, as sombras agarram-se em esforço, como se tivessem já atingido a fase outonal da vida. Mas é Primavera e, apesar de Helena não achar esta manhã bonita, acha-a certamente atraente. Tão atraente que acredita que toda a quietude é um gesto consciente, talvez para que a ainda fria luz do sol beije os vidros da sua janela com alguma intimidade. É assim, talvez acredite que o amanhecer todos os dias seja um acto qualquer de amor.

6 comentários:

deKruella disse...

:) será que poderei dizer...você fala bonito? ;)

Ivar C disse...

kruellinha, podes sim... desde que depois não te zangues... :)

Silvia Chueire disse...

Divertia-me a ler o seu blog e acabo por me deparar com um texto sério, assim, bem escrito. Gosto.

Abraços,

Silvia

Ivar C disse...

silvia chueire, eu escrevo muitas vezes a sério. A sério... :)

Achadiça disse...

Muito bom...

Ivar C disse...

Afinal não foi publicada hoje... obrigado Achadiça... ;)