1.04.2007

TPC

A Fausta passsou-me um TPC: "Quando for grande quero ser…" e mandou-me passá-lo a mais três vítimas... aliás, leitores.

É preciso que se diga que, quando eu era puto, não havia telemóveis nem computadores, nem os pais tinham medo de deixar uma criança de seis anos todo o dia na rua a jogar futebol com os amigos. Lembro-me de ir para a escola com umas calças de fato de treino vermelhas, herdadas do meu irmão mais velho que, por serem muito largas em baixa, levavam uma mola da roupa em cada perna a fazer a dobra. Tudo normal para mim, até a minha mãe descobrir, claro. Depois lá me comprou um fato de treino novo, e eu fiquei surpreendido com o facto de a minha mãe ficar chocada por eu andar com molas da roupa presas às calças. Tanto melhor, de qualquer maneira, e ganhei um fato de treino novo com as cores do Beira-Mar.
Foi por essa altura que, quando o meu pai me perguntou o que é que eu queria ser no futuro respondi sem hesitação que queria ser médico ou farrapeiro. O meu pai riu-se e perguntou-me porquê. Médico porque o meu pai já na altura dizia que eles não faziam nada (lol, agora esta celeuma com o picar o ponto dá-lhe razão), farrapeiro porque havia um no caminho da escola, e eu adorava aquelas montanhas de trapos e papéis velhos que se viam cá de fora. Dizia-se que, às vezes, apareciam-lhe livros novinhos lá no meio, e eu achava-o um sortudo. O farrapeiro já não existe, ficava mesmo a caminho da escola (ao lado das traseiras do café Ramona, para quem é de Aveiro). Os médicos existem. De qualquer maneira nunca concretizei nenhum destes sonhos, mas consegui outro já de adolescente: ser um escritor falhado. Ser escritor é difícil, mas ser escritor falhado ainda é mais.
Para além destes sonhos profissionais quis ser marido, e a minha colega Helena, da escola primária, foi a primeira tentativa. Dávamos as mãos e corríamos no recreio, às vezes fugíamos para o parque perante os insultos dos colegas que nos apelidavam de “namorados”. Eu era relativamente grande mas também era um banana, e raramente retaliava pela força, depois uma vez lá me saiu um impulso mais violento e dei uma sova num miúdo a quem chamávamos Palha d’Aço (por causa do cabelo). Mas pronto, foi com a Helena que fui tentando descobrir o que podia significar ser marido, mas não cheguei a perceber porque é que raio os adultos se beijavam na boca, que aquilo não dava gozo nenhum. Era melhor dar as mãos de vez em quando e depois jogar à apanhada ou nos ferros. Depois a Helena ainda foi minha colega no ciclo, até que um dia, para acompanhar a mãe, foi viver para Lisboa. Foi o meu primeiro divórcio e nunca mais a vi.

Três vítimas seguintes:
Divas, Farinha Amparo e claudipédia

15 comentários:

Cláudia disse...

Olha, já tenho o que fazer no fim-de-semana!!! Porque hoje tenho formação até às tantas e amanhã vou pos copos a Aveiro!! Só no sábado escrevo mais uma crónica!

Agradeço o desafio. Gostei do tema. :)e das molas nas calças!

Anónimo disse...

orráite... lá tenho eu que pensar... :)))

Ivar C disse...

Olha que azar, amanhã não estou em Aveiro senão até bebíamos um copo. :(

Ivar C disse...

lol, didas, ter que pensar é de facto difícil, pelo menos pra mim...

Anónimo disse...

Gostei também muito.
Usei molas nas calças quando andava na minha velhinha bicicleta porque a corrente saltava.
Bjs.

Ivar C disse...

lol, marta., também me lebro disso, numa bicicleta daquelas com um selim curvo...

Anónimo disse...

ai que coisas a gente vai sabendo uns dos outros...
... agora é que eu percebo a história da helena, que apanhei a meio no tempo em que comecei a concorrer ao concurso do escritor famoso. Não sabia que ele eras tu!!!
Mas a história está deliciosa!

Ivar C disse...

lol, Fausta, qualquer dia conheces-me melhor que pessoas com quem me cruzo diariamente... ;)

Anónimo disse...

isto do "quando for grande quero ser..." está a ser mais giro do que eu imaginava!
as molas também fizeram parte da minha infância.
a tua bicla era daquelas com acento comprido, com encosto, o quadro com as mudanças e o guiador alto?
beijinhos.

Maria do Rosário Sousa Fardilha disse...

ai caracoles, não tinha visto esta! o olhar é mesmo selectivo :)

vou pensar. é que ainda não sei o quero ser quando for grande..., é lixado!

Ivar C disse...

teresa, sim era dessas, e que saudades que eu tenho dela... ;)

mrf, ainda tens tempo para decidir. Não sofras... :)

Anónimo disse...

Lindo :)
"Pequeno: é o que deviamos responder quando nos perguntam o que queres ser quando fores grande?" Quem o diz é Gémeo Luís em O Quê de Quem.
Mas isso é só para quem não sabe se-lo assim tão bem...
beijo

Ivar C disse...

grande beijo para ti, augusta. olha, deixa-me fazer-te uma pergunta: tu conheceste-me em pequenina?

Anónimo disse...

Temo que não. Vim para aveiro naquela fase "pequenina é q eu não sou!" mas sim,reconheci a infancia em ti :)

Ivar C disse...

pronto... era só curiosidade. tive uma amiga de infância que se chamava Augusta. ;)